sexta-feira, 30 de julho de 2010

Rádios Piratas em Londres

Quando os tempos são de "paz sem voz" (como na canção de O Rappa) é quando surgem algumas alternativas à opressão. Foi assim nos anos 60, quando na Inglaterra surgiu um movimento de rádios não oficiais que operavam de uma forma no mínimo inusitada. Para não serem ilegais, no sentido estrito da palavra, elas eram instaladas em navios e operadas no oceano em águas internacionais, onde, a princípio, a legislação inglesa não tinha validade. Esse movimento foi uma reação à rádio BBC (a rádio oficial) que tocava apenas 2 horas semanais de música popular, o recém nascido rock'n roll. As precursoras deste movimento foram a Radio Caroline, Swinging Radio England e Britain Radio, as duas últimas operavam a partir do mesmo barco que veio dos EUA especialmente para isto. Na figura ao lado aparece um antigo posto de defesa militar da segunda guerra, abandonado e que serviu de base para uma das rádios que operaram na década de sessenta. É exatamente porque essas rádios operavam no oceano que ganharam o nome de rádios pirata. Na época essas rádios juntas tinham a audiência de 21 milhões de pessoas, representando metade da população da Inglaterra na época.

A corôa inglesa reagiu e tornou-os ilegais com o Marine Broadcasting Offences Act e as rádios piratas se adequaram e começaram a usar novas estratégias para burlar a perseguição real. A história das rádios pirata se tornou desde então um jogo de gato e rato com o governo. Atualmente na Inglaterra existem cerca de 150 rádios piratas operando (estimativa), das quais uma grande parte está em Londres.



Para aqueles que se aventuram no inglês com sotaque britânico, aqui está um pequeno documentário muito interessante sobre o que acontece em Londres hoje:
http://www.palladiumboots.com/exploration/london-pirate-radio
E há até um filme (circuito comercial) que conta essa história chamado "Os piratas do rock" (The boat that rocked em inglês) dirigido por Richard Curtis.
Um outro documentário mais antigo, que se encontra no youtube, mostra como a coisa acontecia nos 90 (respectivamente Parte1, 2 e 3):
http://www.youtube.com/watch?v=Ve9iwhLwXJk
http://www.youtube.com/watch?v=PZ3UTr9Sgcs
http://www.youtube.com/watch?v=aa_w0FirVoI

Porém a história sempre se repete, os meios de informação e entretenimento "oficiais" não dão conta da diversidade de interesses existente e então, como uma reação a essa demanda, surgem esses movimentos independentes. É o que acontece hoje em Londres. As rádios piratas tocam música urbana, hip hop, musica latina, etc. Bandas e DJs locais tocam dentro das próprias rádios para uma audiência ávida pela novidade, pelo diferente.

Depois das rádio piratas o entendimento sobre a liberdade de expressão se modificou e deu origem a uma classe de rádios chamada de rádios livres. Por trás delas, também está a ansiedade gerada pela homogenização (globalização) cultural mas principalmente está a ansiedade pelo direito à liberdade de expressão. Uma expressão livre principalmente em relação à política mas também cultural.

Esse é um assunto, cuja discussão não acaba aqui. Enquanto houverem governos ou grupos querendo calar as diversidades e minorias, haverão homens querendo falar. E o jogo de gato e rato continua. Um jogo de gato e rato inusitado porque o gato e o rato, nesse caso, são os próprios homens.

Para ler mais:
http://www.offshoreradio.co.uk/sre1.htm

terça-feira, 13 de julho de 2010

TERCEIRO MUNDO, FESTIVO?

Os varais balançam seus pendurados coloridos com ventos de cá e de lá. Como testemunhas suspensas dos arredores e dos acontecidos, são guard-rails nas curvas onde estes mesmos ventos se assustam e fazem um novo sentido. Alimentam a nossa corajosa e insistente vontade – NECESSIDADE, em sua maior parte do tempo – de criar, “artimanhar” e adaptar.


Ao mesmo tempo, contínuos processos de violência e de “má-educação” ainda se fazem vivos. E não dá pra se dizer, com toda a arrogância talvez possível, que são processos de pessoas que vivem – AINDA - em outro tempo, em um passado bárbaro e rigoroso exibido em nossos televisores através de sinais distantes de eletricidade e filmes importados via Hollywood. A velocidade é que é outra.


Claro, não necessariamente tudo aquilo que vem de uma cultura e tradição tem que ser legal, bonito. Nos chama atenção, desperta a curiosidade. Dá aquela dor aguda nas tripas e inquieta. E impressiona quando, mesmo assim, suas vítimas ainda preservam em seus rostos – às vezes escondidos, às vezes mal tratados – um sorriso daqueles de festa. Festa para os seus santos, para suas colheitas, para agradecer e não só pedir.


O aparente exótico vira sustento.

Aquilo que é diferente é perseguido, assassinado e vira poção mágica para feiticeiros e curandeiros.

Animais passeiam em coleiras triunfando seu fim entre carinhos e barriga vazia.

Walt Disney pendurado feito cordel.

A fé alheia garante o aluguel, panela cheia e diversão.

O som de tambores de muito tempo se confunde com as teclas de computadores capengas espalhados em lan-houses nas mais diversas periferias.

Fita crepe vira solda.


São eles o terceiro mundo? Somos NÓS fatia desse mesmo bolo? Existe esse terceiro mundo? Tá, mas qual o primeiro e o segundo? Esse mundo, ele pode ser festivo? Que festa é essa?


Cores, cheiros, nuances, sobrevivências, atalhos, rebolados, quem não pode se sacode, vendedores ambulantes, gambiarras, vira-latas, um ponto pros santos, músicas eletro-manuais, inclusão obrigatória por leis nem sempre claras, farinha do mesmo saco, sotaques confusos, estoque de guerra armazenado nos unidos estados com parada obrigatória aqui e ali, cordão de isolamento, “coadjuvismo” em suas próprias histórias.


Terceiro mundo, festivo?