terça-feira, 28 de setembro de 2010

Música Africana


   Outro dia recebi um telefonema da Jerusa, ela me falava que estava escrevendo uma matéria sobre música africana para universidade e que o Dj Fausto (um amigo com quem faço discotecagem nas festas da Kizomba Batuqueir@ e do 3 Mundo Festivo?) havia lhe passado meu telefone, perguntou se eu poderia ajuda-la. Seu pedido me deixou pensativo, pois apesar de ser apaixonado pela cultura africana e afrodescendente espalhada pelo mundo, nunca parei para sistematizar este conhecimento que é empírico para mim. Refleti que o tema música africana (como quase tudo que se refere aos saberes de povos negros) é muito amplo e isto, sem cogitar a música afrodescendente. Vejamos por exemplo o aspecto linguístico, tem países no continente africano que falam mais de cem idiomas, fato que por si indica um número muito grande de etnias somente num mesmo país.
   Se não me falha a memória, desde o Século IX do calendário cristão a diversidade é uma característica marcante na vasta região subsaariana, integrava a estratégia dos povos locais para resistirem ao avanço de povos árabes pelo norte do continente. Formaram-se federações com o comando político exercido por grupos étnicos majoritários e unidade na luta de resistência, mas respeitando-se identidade de cada nação.
   A solicitação da Jerusa me deu um nó! Por onde começar a falar sobre a música de um vasto continente que tem seus filhos espalhados pelo mundo, influenciando todos os aspectos da vida no planeta? Que tem como valor introjetado a valorização da riqueza da diversidade. Pensei: É... infelizmente, no momento, não disponho de tempo para tal empreitada... mal consigo escutar um pouco de afrobeat, kizomba, zouk, soukous e semba, meus ritmos preferidos de africa, fora o samba, o afoxé, o reggae, o funk, o soul, o rap, o maracatu, a ciranda, o forró, o jongo, o congo, o côco, o carimbó, a salsa, a rumba, a cumbia, o charme... Decidi invocar umas Anansis Afrofuturistas e resolver três situações de uma cartada só: Deixar uns links de músicas que estou devendo para o blogger, ajudar a Gerusa e disponibilizar algumas informações para quem desejar. Se quiserem garimpar, píca-le por debajo de:
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Kizomba e Afrobeat



    Você já ouviu falar do MPLA de Angola ou do MOP da Nigéria? A maioria das pessoas jamais saberá o significado dessas siglas, mas se a pergunta referir-se à Kizomba ou ao Afrobeat? Bem... as possibilidades de conhecimento serão melhores, pois, é comum que os movimentos musicais tenham maior alcance que os movimentos políticos. Você pode pensar: “Sim! Isso é lógico, a indústria cultural não vai veicular conteúdos rebeldes ou que levem ao questionamento do status vigente, e sim, peças e movimentos artísticos que nasçam ou tornem-se estimulantes de comportamentos ligados ao consumo alienado. Mas o que o MPLA e o MOP tem a ver com Kizomba e Afrobeat”? Bem entre os finais dos anos de 1950 e princípios de 1960 o MPLA agrupa as principais figuras do nacionalismo angolano, estudantes no exterior e lutadores contra o colonialismo, formando o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) de orientação comunista, para lutar contra o colonialismo português e, nos anos de 1980 Abel do Samba pertencente as FAPLA (Forças Armadas Popular de Libertação de Angola), asa armada do MPLA, liderava o grupo musical os Fachos que cria o estilo denominado Kizomba. Já na Nigéria em 1979 Fela Anikulapo Kuti inventor do Afrobeat, estilo musical que mistura o jazz, funk e música tradicional africana criou o partido Movimento Para o Povo - M.O.P (Movement Of the People).
   A Kizomba e o Afrobeat deram bem mais a saber sobre a exploração dos povos africanos pelo dito “1º mundo” que os movimentos políticos aos quais estavam ligados. Agora, você pode questionar: “Mas, a Kizomba que eu conheço é uma dança sensual que pouco fala de política, e o Afrobeat, é um estilo musical muito refinado para conseguir alcançar as massas”. Sim! Esta é a vitória atual da indústria cultural -absorver elementos que lhe interesse de movimentos contestatórios e os resignificar, a seu interesse, como novos itens diluídos nas prateleiras. A seu favor na construção e disseminação de valores e comportamentos favoráveis ao consumo de seus produtos, os empresários da cultura possuem, além das leis, “a deficiência do ensino público” e o monopólio da grande mídia na mão de poucas famílias. Mas nem sempre foi assim, na origem Kizomba e Afrobeat contém potenciais capazes de mobilizar, pela sedução, para busca de melhores condições existenciais para os milhões de seres miseráveis vistos como exóticos...